De quem é a mala?
Pertence a uma pessoa com vários nomes. Todos muito conhecidos.
Pessoa que lia muito. Escrevia também muito. Dormia às vezes.
Reconhece a figura? não? então lá vai outra pista.
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas—a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.
(8-11-1915)
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.
(8-11-1915)
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
Fotos: Cristiane Cardoso
É incrível ver que um homem que vivia de poesia, viveu sua vida sem poesia...realista demais!
ResponderExcluirEle não era um homem de alma pequena. Cabia muito ali.
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