Memórias no papiro

O drama de Aurelius Polion foi preservado por milênios
num papiro, suporte de escrita desenvolvido por
egípcios a partir de plantas dos pântanos

Era uma vez uma planta dos pântanos. Ela teve seu caule cortado em tiras, que foram pressionadas, trançadas e se transformaram numa ótima base para a escrita. Chamaram-na de papiro. Essa descoberta foi feita há pelo menos três milênios antes de Cristo, no Egito. 

Cristo veio e foi e 214 anos depois dele, num dia de saudades, um legionário romano chamado Aurelius Polion usou um papiro para escrever uma carta à família. “Rezo noite e dia para que estejam de boa saúde e presto obediência contínua aos deuses em vosso nome”, disse Polion, entre outras coisas.

A carta saiu de Panónia Inferior (hoje Budapeste), onde Polion estava, e percorreu 4.000 km até Tebtunis (cidade próxima do Cairo), onde morava a família do moço. A correspondência escrita em papiro resistiu bravamente ao tempo e alguns milênios depois, já no final do século XIX, foi descoberta pelos egiptólogos britânicos Bernard Grenfell e Arthur Hunt. Mas estava meio acabadinha e difícil de entender. Só recentemente, em 2011, ela foi decifrada. Os dramas de Aurelius Polion também.

Ele teria nascido egípcio e adquirido cidadania romana. Teria sido voluntário do exército romano, na Legio II Adiutrix (2ª Legião Auxiliar) numa época sem guerras. Só assim teve tempo de escrever não apenas uma, mas outras seis cartas à família. Falaria em egípcio e grego, mas escreveu a carta em grego e não escrevia muito bem, o que levou o investigador e decifrador da carta Grant Adamson, da Universidade de Rice – Texas (EUA), a pensar que Polion pertencia a uma família de classe baixa.

Aurelius Polion escrevia para o irmão, irmã e mãe, que nenhum retorno deram. “Não paro de vos escrever, mas vocês não se lembram de mim. Mas eu faço a minha parte de vos escrever e não paro de vos ter presentes (na minha mente) e de vos trazer no coração. Mas vocês nunca me responderam… Enviei-vos seis cartas…”.

Enquanto Polion sofria, os chineses testavam o uso de fibras de árvores e trapos de tecidos cozidos e esmagados na fabricação do que chamaram de papel. Mas aí é uma outra história.

Fonte: Público http://bit.ly/1h5PikB

Comentários

  1. Que loucura, tantos anos depois a gente ter acesso a escritos como esse...fantástico!

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    1. Sim Léia, o que nos faz pensar sobre a durabilidade das informações virtuais.

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